São muitas as bandas de que se pode gostar, mas bandas que sejam responsáveis pela criação de um ADN, um padrão, de audição - neste caso uma identidade musical que nos identificará - são poucas. Os Broken Social Scene são uma dessas poucas bandas que me moldaram o gosto musical ao longo dos anos.
Especialmente com os discos "You Forgot it In People" (2002) e "Broken Social Scene" (2005), as texturas, ambientes, deambulações e experimentalismos foram, durante anos, uma enorme lição sobre o que o melhor do indie dos 00's nos deu.
À primeira oportunidade de os ver, em Paredes de Coura 2006, não deu para faltar. Do pouco que ainda me recordo sei do quão fabuloso foi ver aquele número imenso de pessoas em palco produzir um som tão coeso e coerente.
Passados 4 anos, na Casa da Música, o reencontro aconteceu em boa hora pois, como banda, estão em grande forma. São de facto um super-grupo. Enquanto actualmente a maior parte das bandas actua durante uma hora e um quarto, apresentando apenas o mais recente trabalho, os Broken Social Scene ofereceram perto de duas horas incessantes de revisitação ao catálogo inteiro. A mestria com que conseguem uniformizar as canções, no meio do caos de camadas frenéticas de guitarras, não está ao alcance de qualquer banda.
As emblemáticas "7/4 Shoreline", "Fire-Eyed Boy", "Cause=Time", "KC Accidental", "Stars and Sons" não faltaram, sendo que a título pessoal foi uma maravilha ouvir ao vivo a "Superconnected".
O único senão em toda a noite vai exclusivamente para a voz feminina actual que, apesar da aparência fofa e deslumbrante, é uma desilusão enorme pela atitude inerte e sem chama em palco. Conseguiu mesmo a proeza de quase destruir a maravilhosa "Anthems for a 17-year old Girl".
Última nota para a excelente qualidade de som da Sala 2 da Casa da Música - coisa que nem sempre acontece naquele local.