Faltam 4 horas e já se vêem pessoas equipadas a rigor, filas enormes para entrar no recinto, trocas de expectativas, nervosismo, ansiedade e confiança num bom resultado. Podia ser um cenário à entrada para qualquer final da Champions League mas não. É Paredes de Coura e consegue-se sentir o burburinho no ar, próprio de jogo grande. A quantidade de t-shirts não deixa enganar, Ornatos Violeta são a equipa da casa. No período de aquecimento houve The Go! Team - esforçados e com a mesma energia já vista anteriormente num concerto na Casa da Música - e Dead Combo - elegantes e de qualidade.
Terminado o aquecimento, a ascensão da antecipação faz-se forte, demasiado forte. A minutos da tal final sempre sonhada mas nunca realizada, a realidade ainda sai da boca de muitos disfarçada de espanto "Têm noção que vamos ver Ornatos Violeta? Agora a sério, têm mesmo?". À partida, a táctica inicial era já conhecida: o álbum "O Monstro Precisa de Amigos" tocado na íntegra. Restava combater as incertezas e medos sobre o resultado da partida: Será uma boa exibição? A vitória vai ser possível? foto: Hugo Lima
Dá-se o apito inicial e a nossa equipa, os Ornatos Violeta, entra em campo e não mais pára de marcar golos. Ao final do 5º golo, "Ouvi Dizer", o avançado Manel Cruz decide falar aos adeptos: "Na minha terra diz-se foooda-se!". Manel, na tua terra não. Na nossa! E é mesmo isso: fooooooda-se! Em oito edições de Paredes de Coura, não me recordo de ver aquele anfiteatro cantar uma música daquela forma, em uníssono, seja de que banda for.
A taça estava mais do que entregue já antes do intervalo e foi inacreditável ver uma devoção tão grande quanto honesta por uma banda nacional. O ambiente de antecipação, nervosismo, curiosidade e, depois, de celebração tornou a noite numa daquelas histórias para um dia contar aos netos.
Aos Chromatics coube a tarefa de prolongar o clima de celebração da vitória folgada de Ornatos Violeta. Estiveram com um pé no Porto há 2 anos mas o concerto de então foi cancelado no dia anterior. Desde então que se suspirava por nova oportunidade e o novo disco "Kill For Love" só veio reforçar esse sentimento. Por limitações de horários festivaleiros, os Chromatics tiveram direito apenas a uma hora de concerto. Assim, foi de grande perspicácia que a banda optou por apresentar as suas músicas quase em jeito medley.
A entrada fez-se com "Tick Of The Clock", que ganhou fama por marcar presença na banda sonora do filme Drive. Ruth, a vocalista trés chic, encarna na perfeição o conceito musical dos Chromatics: ora enigmático, ora sensual. Ao vivo, as músicas tornam-se expansivas e até com mais nervo. Com Johnny Jewel, o mago das teclas e obreiro máximo da banda, "Back From The Grave", "I Want Your Love", "In The City" e "Hands In The Dark" foram armas de dança maciça.
No encore (pausa algo descabida para um concerto de 1 hora), ouviu-se a maravilhosa cover de "Running Up The Hill", original de Kate Bush, e "Night Drive", esta última que foi o primeiro contacto com a banda, há 5 anos, e de alguma forma é a mais especial. Que regressem rápido! Num ambiente mais pequeno (olá, Plano B).